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A primeira advogada da história do Brasil foi negra e escravizada


Esperança Garcia nasceu em uma fazenda controlada por Jesuítas, em 1751. Ela morou nesse lugar até que Marquês de Pombal expulsou do Brasil a ordem eclesiástica. Então, com 9 anos, já alfabetizada pelos padres, Garcia foi vendida para o Capitão Antônio Vieira Souto, um homem extremamente rígido e maldoso com os castigos aplicados aos escravizados.
Na grande fazenda do Capitão, apanhava-se por tudo. Esperança, cansada dos abusos e intermináveis torturas, após ver o filho apanhar e sangrar depois de um castigo, resolveu redigir uma petição requisitando direitos à humanidade e à dignidade e reivindicando o batismo do filho como cristão. Na época, impulsionados pelas ideias iluministas, esses direitos eram discutidos na Europa a todo vapor.


A petição foi encaminhada por um padre para o Governador da Capitania do Maranhã, jurisdição à qual o Piauí pertencia. A petição, além de solicitar direitos, pedia que ela fosse enviada para a fazenda de algodão de onde saiu quando criança. A escrita impressionou o governante e acabou tendo uma grande repercussão no período. Porém, o pedido muito bem redigido por Garcia foi negado. O poder de um capitão era maior que o da mais ilustre das escravizadas. Séculos depois, a OAB do Piauí reconheceu a grande Esperança Garcia como a primeira advogada mulher do Piauí.

Estátua de Garcia em Teresina


A carta, escrita em meados do século XVIII, foi encontrada pelo historiado Luiz Mott e segue abaixo:

“Eu sou uma escrava de V.S. Administração do Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão para lá foi administrar, que me tirou da fazenda dos Algodões, onde vivia com meu marido, para ser cozinheira da sua casa, onde nela passo muito mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca, em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo de peiada; por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo tão peço a V.S. pelo amor de Deus e do seu Valim ponha aos olhos em mim ordinando digo. Mandar a procurados que mande para a fazenda aonde ele me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha. De V.S. sua escrava Esperança Garcia (MOTT, 1985:106).”

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Referências:

Mott, Luiz. Quando a Escrava Esperança Garcia Escreveu uma Carta: 1985, 1 Edição, São Paulo. Geral

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