Em novembro de 1927, Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher a se registrar como eleitora no Brasil. Ela era moradora de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e esse fato despertou a atenção da feminista Bertha Lutz, que foi ao estado no início do ano seguinte para discutir com o governador, Juvenal Lamartine, a importância de candidaturas femininas nas eleições municipais daquele ano.
Dessa conversa, saiu o nome de Alzira Soriano, filha do coronel Miguel de Vasconcellos e de Margarida de Vasconcellos. Alzira nasceu em Jardim de Angicos, Rio Grande do Norte, em 29 de abril de 1897. Casou-se aos 17 anos com o promotor Tomás Soriano, mas perdeu o marido muito cedo para a gripe espanhola. Viúva aos 22 anos de idade e com três meninas pequenas para criar, ela retornou à fazenda da família e passou a cuidar da contabilidade, do gado e da lavoura.
Seu pai já havia sido prefeito e ela exerceu papel ativo durante a sua campanha. Na época da visita de Bertha Lutz, a localidade natal de Alzira tinha se tornado um distrito de Lajes e escolheria seu prefeito nas eleições daquele ano. Assim, ela aceitou o convite e entrou para a história como a primeira prefeita do Brasil.
Entretanto, a trajetória para escrever seu nome na história não foi fácil. Mesmo sendo filha de um coronel e viúva de um promotor, Alzira Soriano enfrentou muito preconceito e machismo. Ela foi criticada por muita gente e xingada por várias pessoas que achavam que não havia lugar para mulher na política. Chegou, inclusive, a ser acusada de ter um caso com o governador do estado por causa do apoio que recebeu dele.
Apesar de todas as críticas e falsas acusações que enfrentou durante a campanha, Alzira foi eleita com 60% dos votos, deixando claro em seus discursos que “a mulher pode ser mãe e esposa amantíssima e oferecer, ao mesmo tempo, à pátria uma boa parcela de suas energias físicas e morais”.
Ela tomou posse em 1º de janeiro de 1929 e governou cercada por homens. Não há muitos registros do seu mandato, sabe-se, porém, que ela abriu estradas, ergueu escolas e implantou a iluminação pública a vapor.
No entanto, Alzira Soriano ocupou por pouco tempo a cadeira da prefeitura. Após a Revolução de 1930, ela renunciou ao cargo. Chegou até a ser convidada por Vargas para assumir a condição de interventora, mas recusou a proposta.
Depois disso, ela se mudou para Natal, retornando a Lajes após a morte de seu pai, em 1947. Nessa época, tornou-se vereadora e exerceu essa função por três mandatos. Em toda a sua atuação política teve que lidar com o machismo e enfrentar aqueles que colocavam a sua moral em questão por exercer um cargo que, naquela época, era tipicamente masculino e por viver cercada por homens no exercício de sua vida política. Certa vez, ela chegou a dar um murro na cara de um senhor que a ofendeu aos gritos.
Alzira Soriano faleceu de câncer em 1963, mas deixou seu nome registrado na história ao ocupar uma posição predominantemente masculina e abrir espaço para que outras mulheres abraçassem a carreira política.
Referências:
https://rd.uffs.edu.br/bitstream/prefix/3503/1/ENGLER.pdf
https://www.alziras.org.br/nossainspiracao
https://claudia.abril.com.br/politica-poder/pioneirismo-mulheres-rio-grande-do-norte-politica/