Na época, a sociedade brasileira acabou culpando a garota pelo estupro. Os quatro jogadores foram acusados e condenados, mas recebidos no aeroporto como heróis, tanto por gremistas como por colorados
Não é raro encontrarmos nomes de atletas envolvidos em acusações de estupro. A repercussão do caso Robinho, trouxe à tona novamente um outro caso envolvendo jogadores brasileiros e que seguia praticamente esquecido.
Conhecido como caso Berna, o fato ocorrido em 1987, na Suíça, envolveu quatro jogadores do Grêmio e uma garota de 13 anos.
Após conquistar o tricampeonato estadual, vencendo seu grande rival Internacional, a equipe gremista viajou para a Europa para realizar uma série de jogos. A delegação ficou hospedada no Hotel Metropolitano na cidade suíça de Berna. Na noite do dia 30 de julho, dois oficiais compareceram ao hotel para prender os jogadores Cuca, Fernando, Henrique e Eduardo, eles haviam sido acusados de estupro pela menina Sandra Pfäffli, de 13 anos.
Na época, Cuca tinha acabado de ser contratado pelo Grêmio e os outros três eram jovens promessas do time. O caso gerou uma grande mobilização da equipe gaúcha para livrar seus jogadores de qualquer problema com a justiça e contou até com a intervenção de João Havelange, então presidente da FIFA, cuja sede ficava justamente na Suíça.
Sandra teria ido ao hotel acompanhada do namorado e de um amigo para conhecer os jogadores brasileiros. Segundo seu depoimento, em certo momento, ela foi arrastada para o quarto 204, permanecendo por meia hora lá dentro e tendo sido forçada a manter relações sexuais com os jogadores.
Conforme a versão dos jogadores, ela parecia ter mais de 18 anos, era uma jovem bonita e entrara no quarto deles tirando a blusa para que lhe dessem uma camisa do Grêmio. Assim, na visão deles, o que aconteceu foi consensual e provocado por ela.
O exame de corpo de delito não encontrou sinais de agressão na adolescente, no entanto, conforme a legislação suíça, cometer ato sexual ou análogo com menores de 16 anos, era considerado estupro e poderia levar a seis anos de reclusão.
Cuca e Fernando não foram reconhecidos por Sandra e poderiam ser liberados, caso o juiz determinasse uma fiança. Já Eduardo e Henrique foram identificados como autores da violência sexual e ficaram isolados em celas individuais, mantendo comunicação apenas com seus advogados.
Mesmo com todas as intervenções feitas pelo Grêmio, pela Fifa e até pelo Itamaraty, os atletas ficaram presos por cerca de 30 dias e só foram liberados após muitas negociações e com o compromisso de que voltariam à Suíça para qualquer audiência para a qual fossem convocados.
Ao chegarem ao Brasil, foram saudados no aeroporto por torcedores do Grêmio e do Internacional, que os receberam como heróis injustiçados, enquanto gritavam que a menina era uma “puta”. E foi essa a visão também que permeou as notícias sobre o caso aqui no Brasil. A maior parte das matérias deixava sempre o questionamento a respeito do que Sandra estaria fazendo no quarto dos jogadores ou perambulando por um hotel cheio de homens? A mãe de Eduardo chegou a afirmar que os jogadores não tinham culpa alguma, afinal, a menina tirou a blusa na frente deles e eles “agiram como homens”.
Dois anos depois, os quatro foram condenados pela justiça suíça, mas puderam cumprir a pena em liberdade no Brasil. O caso caiu no esquecimento e as ações deles foram naturalizadas por grande parte da mídia e da sociedade da época, que prontamente buscaram desqualificar Sandra e justificar o modo como eles trataram a garota.
Referências:
http://www.justificando.com/2020/10/16/em-terra-de-robson-robinho-e-rei/