A história de Cabo Bruno, o justiceiro que mais matou na história de São Paulo.
Cabo Bruno sob custódia da polícia militar a caminho do presídio Romão Gomes.
Quem nasceu na Zona Sul de São Paulo, nos anos 70 e 80, certamente, já ouviu falar desse personagem da crônica policial.
Florisvaldo de Oliveira, mais conhecido como Cabo Bruno, foi um ex-policial que virou justiceiro e foi acusado de mais cinquenta mortes na periferia de São Paulo durante os anos 1980.
A figura do justiceiro era comum nos grandes centros urbanos, onde faltavam o aparato judicial e de segurança do Estado. Esses personagens, que matavam pessoas para fazer “justiça”, proliferaram durante o período de urbanização desregrada das cidades, sobretudo, nos espaços periféricos, os quais, geralmente, eram os epicentros de conflitos violentos sem resolução legal.
Cabo Bruno talvez seja o mais conhecido dos justiceiros. Segundo a crônica policial e a Justiça brasileira, Bruno matou cerca de 50 pessoas, pelos mais variados motivos: seja por vingança, movido por uma ideia de estar “limpando as ruas”, ou mesmo por aparência. Segundo ele, “Um marginal a menos é sempre motivo de alegria”. Bruno também não gostava de pessoas com tatuagem, na época, tatuagens eram mal vistas na sociedade, e fez mais de 5 vítimas apenas por portarem esse tipo de arte no corpo.
Durante os anos 80, Cabo Bruno ficou famoso na zona sul da capital paulista, causando medo aos infratores da lei e admiração de parte significativa da população. Geralmente, o Cabo atacava nas madrugadas revezando na direção de um Opala, Maverick ou um Chevette. Além de assassinar desafetos, o Cabo também era contratado por comerciantes para assassinar criminosos e pessoas estranhas que rondavam algumas áreas nobres da região.
Com a redemocratização, a volta da liberdade de imprensa e o reforço dos órgãos corregedores de ações policiais, as ações do justiceiro viraram alvo de crítica da mídia e das representações das comunidades da periferia de São Paulo.
Ao final dos anos 80, Bruno foi preso e julgado por muitos assassinatos. Condenado a 130 anos de prisão, fugiu inúmeras vezes e foi recapturado, até se converter ao cristianismo e virar evangélico em um templo montado dentro do presídio onde estava. Lá virou pastor e foi liberto por bom comportamento, além de ocupar o cargo religioso, o ex-matador pintou quadros em acrílico e chegou a organizar uma exposição com suas artes.
Libertado do cárcere por bom comportamento, foi alvejado por 18 tiros, quando voltava com a família de uma viagem religiosa para Aparecida, em setembro de 2012. Ele faleceu na hora. Os disparos foram realizados por 2 homens, cujas identidades até hoje não foram descobertas.
Ao longo de sua história, Cabo Bruno foi adorado e demonizado pela população, mídia, políticos e polícia.
Esse personagem ajuda a expor as contradições da ética brasileira que se vê perdida no meio da conturbada relação entre justiça, falta do Estado, justiçamento, sentimento de impunidade e corrupção. Fenômeno que causa marcas profundas na nossa sociedade desde sempre.
Podemos observar mais contradições em uma das frases mais famosas do Bruno:
“Não precisa de pena de morte no Brasil, ela já existe. Só eu já executei mais de 50. Faço o serviço melhor do que qualquer chave de cadeira elétrica”.
Referências
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451985000400009&script=sci_arttext
https://gauchazh.clicrbs.com.br/ultimas-noticias/tag/cabo-bruno/
https://vejasp.abril.com.br/cidades/quem-foi-cabo-bruno/