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Conheça como funcionava o Cangaço: o fenômeno controverso que, ainda hoje, desperta polêmica, amor e ódio

Zé Sereno e outros três cangaceiros de seu bando, 1936.
O grupo de Zé Sereno era um dos mais temidos na época. O Bando tinha fama de ser extremamente violento e, além de fazenda, realizava saques em igrejas e comércios – Benjamin Abrahão

O cangaço foi um fenômeno denominado por autores como Frederico Pernambucano de Mello e Eric J. Robsbawn como uma espécie de banditismo social, que ocorreu em finais do século XIX e início do século XX, principalmente no norte e nordeste brasileiro. O fenômeno se caracterizava por grupos armados que percorriam regiões pobres do país. Esses bandos, vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania, saqueavam fazendas e faziam justiçamentos.

O lendário cangaceiro Lampião posa para foto segurando uma edição de um dos jornais que costumava ler, O Globo, 1936.
Lampião era o homem mais temido do Nordeste, controlador e chefe do maior bando de cangaceiros que apareceu na região. Foto – Benjamin Abrahão



Apesar de toda a aura mitológica sobre esses homens e mulheres, sabe-se que muitas ações tenebrosas eram protagonizadas por eles. Execuções a sangue frio, estupros, marcação e mutilação de mulheres e inimigos.
Ao longo de quase três décadas, esses bandos foram considerados uma tensa e perigosa ameaça por todos os estados da Federação. Apesar da maldade e das práticas criminosas, muitos dos bandos tinham o apreço de parte da população, que se vendo abandonada pelo Estado, via na atitude dos cangaceiros uma forma de libertação.
Durante muitos anos, a região nordeste do Brasil foi controlada, oficialmente, por fazendeiros que recebiam a alcunha de Coronéis. Esses donos de terras eram responsáveis pela justiça e distribuição do trabalho nessas regiões. Mandavam em grandes pedaços de terra como se fossem senhores feudais.

Bando de Lampião posa pra uma fotografia, após a tomada de uma cidade


Os cangaço surgiu como uma afronta, um poder antagônico aos senhores mais abastados. Geralmente, o cangaceiro era um homem que havia rompido com um desses fazendeiros, ou que viu no crime e no banditismo nômade a oportunidade de fazer dinheiro e poder.
A estrutura do grupo, geralmente, era formada pelo chefe, seus braços (espécie de oficiais), mulheres (que acompanhavam o bando) e os matadores.
Os matadores eram responsáveis por protagonizar assassinatos cruéis, gerando medo e fama aos cangaceiros. Quanto mais impressionante a morte, maior a capacidade do grupo em causar medo.

Cangaceiro Barreira posa junto à cabeça de seu ex-companheiro de bando.
A pena por traição entre os cangaceiros ou por estupro era a decapitação.
O temido cangaceiro Moreno, que ocupou a função de matador no bando de Lampião. Ao seu lado, está Durvinha, também cangaceira.
Corisco, conhecido como Diabo Loiro, era braço direito de Lampião e seu principal amigo


O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do então Presidente da República Getúlio Vargas, que visava eliminar todo e qualquer foco de desordem no território nacional. O regime ditatorial que foi de 1937 a 1945, denominado Estado Novo, incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem.
Patrocinados pelo governo federal, os Estados constituíram tropas oficiais chamadas “Volantes” ou “Macacos”, bem mais equipadas e com maiores recursos, esses destacamentos conseguiram exterminar boa parte dos bandos de cangaceiros existentes na região norte e nordeste do país.

As cabeças dos Bando de Lampião são expostas em uma feira na cidade de Piranhas – Alagoas – Colorização Sérgio Roberto
Membros da Volante mostram um cangaceiro morto.

Referências:
MELLO, Frederico Pernambucano de. “Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil”. São Paulo: A Girafa, 2004.

WIESEBRON, Marianne L. “Historiografia do cangaço e estado atual da pesquisa sobre banditismo a nível nacional e internacional”. Revista Ciência & Trópico, Recife, vol. 24, n. 2, p. 417-444, 1996. 

VILLELA, Jorge Mattar. “O povo em armas: violência e política no sertão de Pernambuco”. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

DOMINGUES, Petrônio. “The Black Corisco”. Revista de História São Paulo. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-83092017000100314&lng=en&nrm=iso.

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